Em 2001, foram editadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de Graduação em Medicina, as quais definem competências e estabelecem a necessidade de utilização de novas metodologias de ensino – aprendizagem, destacando a importância de se ampliarem as atividades práticas nos serviços de saúde, além do hospital universitário. Iniciativas como o Promed, Pró-saúde e Pet-Saúde foram desencadeadas pelo Ministério da Educação e da Saúde, numa ação integrada, com o objetivo de induzir mudanças curriculares que incluam a rede de serviços de saúde para desenvolvimento de atividades práticas, sobretudo na atenção básica à saúde.
Publicações e documentos que estabelecem diretrizes para o ensino de pediatria, nacionais e internacionais, trazem em comum o referencial em indicadores de morbidade e mortalidade e a integração com os serviços de saúde. Especificidades de cada país ou região são consideradas como fundamentais para definição de conteúdos e prioridades dos currículos, reconhecendo a importância de desenvolver no futuro profissional uma visão global em relação à situação de saúde da criança no seu país. A ênfase na atenção integral, hoje na agenda do ensino médico, estão presentes em documentos e recomendações da área pediátrica já há algumas décadas, assim como o desenvolvimento de ações junto à comunidade. A diversificação de cenários de práticas, a assistência ambulatorial e em unidades de atenção básica, em creches e escolas têm sido valorizadas para o ensino de pediatria e várias experiências têm procurado avançar nessa direção com a inclusão de conteúdos de promoção de saúde, prevenção de doenças, considerando uma abordagem global do processo saúde-doença da criança, inserida na família e comunidade.
Pesquisas sobre o ensino de pediatria revelaram que a maioria dos cursos de medicina incluem formação e atividades práticas, em algum momento do curso, na atenção básica, em unidades integradas à rede de saúde pública e desenvolve trabalhos em equipes interdisciplinares. Tem sido verificado, também, intenso movimento de mudanças curriculares, o qual inclui a antecipação do início da pediatria. Dado interessante, também, é que embora tenha ocorrido grande crescimento das especialidades pediátricas, o ensino da graduação permanece integrado e articulado, com exceção da neonatologia que requer uma atenção específica, dada a importância de preparar o profissional para as situações mais frequentes que podem se apresentar para o profissional, independente da especialidade. Veiga, Batista (2006).
A Disciplina de Pediatria Geral e Comunitária desenvolve atividades com estudantes do 3º, 4º e 5º ano de Medicina da EPM-Unifesp há mais de três décadas. Além de aulas expositivas, a característica principal da participação desta Disciplina no ensino médico está pautada na atuação ensino-serviço, centrada na assistência integral à saúde da criança como modelo de aprendizagem.
Nesse sentido, todos os docentes e pediatras participam ativamente do ensino na graduação do curso médico nos diferentes cenários oferecidos. Abaixo, as atividades desenvolvidas em cada ano:
Grupos de 10 estudantes em atividades práticas durante 14 semanas.
Os estudantes realizam atividades práticas, como anamnese ou exame físico, em grupos de dez estudantes, durante a Unidade Curricular, com supervisão de preceptores da Disciplina de Pediatria Geral e Comunitária. As atividades ocorrem em um período semanal, durante o primeiro semestre do ano.
Turmas com 11-12 estudantes, 10 grupos/ano, estágio de 4 semanas
Os estudantes do 4º ano médico atendem lactentes, sem doenças prévias, para vigilância do crescimento e desenvolvimento até os dois anos de idade. O atendimento é semanal,
realizado em prontuário eletrônico por grupos de 3-4 estudantes com supervisão de preceptor da Disciplina, durante todo o atendimento. Os estudantes têm uma agenda própria
durante todo o ano letivo; as consultas são agendadas com intervalos mensais no primeiro semestre e trimestral a partir dessa idade ou de acordo com a necessidade dos pacientes.
O principal objetivo acadêmico deste ambulatório é permitir aos estudantes realizar um atendimento completo (anamnese, exame físico, hipótese diagnósticas e conduta) para um
paciente, exercitando habilidades/atitudes e competências para essa finalidade.
Grupos de 12 estudantes, 11 grupos/ano, estágio de 4 semanas
Os estudantes atendem crianças em consultas de vigilância do crescimento/desenvolvimento, com doenças frequentes na infância como obesidade, asma, anemias, dores recorrentes no Ambulatório Geral de Pediatria e crianças com doenças infecciosas ou esclarecimento diagnóstico no Ambulatório de Infectologia Pediátrica . A atenção integral à saúde das crianças é prioritária nos atendimentos. Os pacientes são atendidos por um estudante em cada sala, com agenda própria, em quatro a cinco períodos semanais durante o ano todo e com supervisão realizada por docentes e preceptores das disciplinas de Pediatria Geral e Comunitária e Infectologia Pediátrica.